Hernán Rivera Letelier | Os Comboios Vão Para o Purgatório


"De repente, o rasto de uma estrela cadente rasga a negrura do céu. O seu olhar segue-o com indiferença maquinal. Na verdade, ele já não tem nenhum desejo para pedir; os mortos não desejam nada e ele esqueceu-se da vida há muito tempo; esqueceu-se justamente no momento em que uma mulher de riso insensato o abandonou para ir para sul com um homem muito mais jovem do que ele. Já não se lembrava há quantos anos fora aquilo; só que quando o acampamento apagou todos os seus fumos e toda a gente partiu a chorar, ele se ofereceu para ficar a cuidar dessas casas vazias como se fossem os dolorosos escombros da sua própria vida. Ficou porque no fundo da sua alma pressentiu que, fosse para onde fosse, a vida sem essa mulher não seria vida, em nenhuma parte do mundo. Ficou a viver só entre esses destroços da povoação fantasma porque num canto do seu coração mantinha acesa a chama da esperança - calibrada diariamente pelo seu amor imarcescível - de que numa tarde de nuvens avermelhadas ela ia voltar arrependida e a chorar de amor aos seus braços.

Ela, a única mulher que ele amou e que amará para sempre e em qualquer outro caralho mundo de Deus."

Comentários

fallorca disse…
Tá na calha, assim que desencalhar o orçamento ;)
imo disse…
Força :)
Cada vez mais me deixo enredar pela escrita latina. É uma escrita quente, com cheiro a terra.
Desejo um rápido desencalhanço à tua carteira ;)

E Vila Real?
fallorca disse…
Vila Real foi «uma coisa» irreal. Depois vais vendo ;)
imo disse…
Já fui espreitando.
Venha o "irreal" atiçar o teu sonho de adolescência :)
fallorca disse…
Foi bem real, mais de 300 pessoas!
imo disse…
Imagino que sim :)

Ainda suspiro pelo "Dublinesca"; cá pelo norte, ainda não há nada a fazer. E os senhores da Bertrand já olham para mim de lado :) A ver se é hoje!
imo disse…
Foi hoje! :)
fallorca disse…
Pronto, já tens o «medicamento» ;)
imo disse…
;)