Hernán Rivera Letelier | Os Comboios Vão Para o Purgatório
"De repente, o rasto de uma estrela cadente rasga a negrura do céu. O seu olhar segue-o com indiferença maquinal. Na verdade, ele já não tem nenhum desejo para pedir; os mortos não desejam nada e ele esqueceu-se da vida há muito tempo; esqueceu-se justamente no momento em que uma mulher de riso insensato o abandonou para ir para sul com um homem muito mais jovem do que ele. Já não se lembrava há quantos anos fora aquilo; só que quando o acampamento apagou todos os seus fumos e toda a gente partiu a chorar, ele se ofereceu para ficar a cuidar dessas casas vazias como se fossem os dolorosos escombros da sua própria vida. Ficou porque no fundo da sua alma pressentiu que, fosse para onde fosse, a vida sem essa mulher não seria vida, em nenhuma parte do mundo. Ficou a viver só entre esses destroços da povoação fantasma porque num canto do seu coração mantinha acesa a chama da esperança - calibrada diariamente pelo seu amor imarcescível - de que numa tarde de nuvens avermelhadas ela ia voltar arrependida e a chorar de amor aos seus braços.
Ela, a única mulher que ele amou e que amará para sempre e em qualquer outro caralho mundo de Deus."
Comentários
Cada vez mais me deixo enredar pela escrita latina. É uma escrita quente, com cheiro a terra.
Desejo um rápido desencalhanço à tua carteira ;)
E Vila Real?
Venha o "irreal" atiçar o teu sonho de adolescência :)
Ainda suspiro pelo "Dublinesca"; cá pelo norte, ainda não há nada a fazer. E os senhores da Bertrand já olham para mim de lado :) A ver se é hoje!