Nikolai Gógol | Contos de S. Petersburgo



"Ontem, de repente fui como que iluminado por um clarão: lembrei-me da conversa dos dois cães que eu surpreendera no Nevski Prospekt. - "Muito bem - disse eu comigo - agora vou saber tudo. É preciso apoderar-me da correspondência trocada entre esses dois cachorros ordinários. Por ela provavelmente ficarei sabendo alguma coisa." Confesso que já cheguei a chamar Medji e falar-lhe assim: - Olha, Medji, nós agora estamos aqui a sós; se quiseres, vou até fechar a porta para que ninguém nos possa ver. Conta-me tudo o que sabes a respeito de tua senhora, diz-me como ela é. Juro-te que não o revelarei a ninguém.

Mas a esperta cachorrinha encolheu o rabo, contraiu-se toda e saiu do quarto caladinha, como se nada tivesse ouvido. Suspeito há muito tempo que o cachorro é mais inteligente do que o homem. Estou até convencido de que sabe falar, apenas tem uma espécie de teimosia. É um político extraordinário: observa tudo, todos os passos do homem. Não, custe o que custar, hei de ir amanhã à casa de Zverkof, interrogarei Fidel, e, se for possível, interceptarei todas as cartas que Medji lhe escreveu."

Comentários