Roberto Arlt | Os sete loucos



"Sei que existo assim, como negação. E quando me digo todas estas coisas não me sinto triste. A minha alma fica em silêncio e a cabeça no vazio. Então, após esse silêncio e esse vazio, sobe-me ao coração a curiosidade do assassinato, uma curiosidade que deve ser a minha última tristeza, a tristeza da curiosidade. Ou o demónio da curiosidade. Ver como sou através de um crime. Isso, isso mesmo. Ver como se comportam a minha consciência e a minha sensibilidade na acção de um crime.
Todavia, estas palavras não me dão a sensação do crime da mesma forma que o telegrama de uma catástrofe na China não me dá a sensação de catástrofe. É como se eu não fosse aquele que pensa no assassinato mas outro. Outro que seria como eu, um homem plano, uma sombra de homem, como no cinematógrafo. Tem relevo, move-se, parece que existe, que sofre e, no entanto, não é mais do que uma sombra. Falta-lhe vida. Que diga Deus se isto não está bem analisado."

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