Jorge Fallorca | Entre Chipiona e Tarifa















"Mas foi preciso apanharmos apenas as laranjas necessárias para o pequeno-almoço tomado em casa, e não à pressa, sempre à pressa, ao balcão de um café barulhento, enfumarado, obrigados a ouvir as conversas dos outros clientes e a ler a agressão dos títulos dos jornais; de nos sentarmos à porta de casa a conversar, ou pura e simplesmente em comunicativo silêncio sobre o céu estrelado, que se substituiu ao gesto automático de ligar a televisão, que a maior parte das vezes nem sequer vemos; de escutarmos o vento nas alfarrobeiras, e o concerto dos grilos, rouxinóis, e outros elementos da inspirada fauna das noites de Verão, que transformavam o ruído das motoretas rurais numa novidade cómica (...). Aprendemos a recusar as solicitações do supérfluo, do inútil, a comprar apenas o estritamente necessário. A trocar a dispendiosa exibição social das esplanadas e restaurantes, pela tranquilidade grátis dos jardins e o prazer da reinvenção da cozinha feita em casa, ouvindo as sugestões locais, as receitas fornecidas por simpáticas donas de casa divertidas com o nosso embaraço nos supermercados, saudavelmente orgulhosas por divulgarem os segredos da sua região."

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