Knut Hamsun | Fome



"O meu pensamento tornou-se mais claro e compreendi que estava prestes a morrer. Pus as mãos à frente e apoiei-me contra a parede, a rua continuava a dançar à minha volta. Comecei a soluçar de raiva e lutei contra a minha desgraça com o mais íntimo da minha alma, mantive corajosamente esta posição, para não cair de todo; recusava deixar-me sucumbir, queria morrer de pé. Passou uma carroça rolando lentamente, e vi que levava batatas, mas na minha raiva e obstinação, lembrei-me de dizer que não eram batatas, mas sim cabeças de couve, e jurei furiosamente a pés juntos que eram couves. Ouvi nitidamente o que dizia, mas persisti na mentira e continuei a jurar repetidamente, só para ter a desesperada satisfação de cometer perjúrio. Deixei-me embriagar por este pecado requintado, estiquei os dedos no ar e jurei, com lábios balbuciantes, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, em como eram cabeças de couve."

Comentários

fallorca disse…
Ah, continuas com os trabalhos de decoração de interiores. Muito bem :)
imo disse…
Nada indecisa, não ;)