Tahar Ben Jelloun | Amores Feiticeiros



"Sente o espírito a desvairar. Diz para consigo:«Não devo pensar, não devo pensar, não devo pensar nem recordar, não, nada de recordações, nada de pensamentos, nada de lembranças, nada de imagens na parede, tenho de esvaziar a cabeça, meter tudo no caixote, não me mexer, não mudar de atitude, não, o abismo entre mim e mim é suficientemente grande para não haver nenhum pensamento.» (...) Tem medo de estar sempre com medo. Tem medo porque a criança dentro dele despertou de repente. Ele deixara de pensar nela. (...) Lembra-se do dia em que decidiu deixar de falar com aquele outro ele que provoca desordem e lhe causa problemas. Não conseguiu fazê-lo calar nem livrar-se dele. Pergunta a si mesmo porque é que os outros não têm aquele género de visitas, porque é que a criança dentro deles se mantém afastada, silenciosa, cúmplice. Na realidade, ele não sabe. Talvez eles finjam, façam de conta que nada os atinge."

Comentários

rosa disse…
ai... Se recuperasse o hábito da leitura(estou muito preguiçosa), este gostaria de ler.
imo disse…
:) Como alguém disse (acho que Borges), a leitura é uma forma de felicidade, e nenhuma felicidade deve ser obrigatória.
A "preguiça" também faz bem à alma :)