Julio Ramón Ribeyro | Prosas Apátridas



"Não há que exigir às pessoas mais do que uma qualidade. Se lhes encontramos uma, já devemos ficar agradecidos e julgá-las somente por ela e não pelas que lhe faltam. É inútil exigir que uma pessoa seja simpática e também generosa, ou que seja inteligente e também alegre, ou que seja culta e também asseada, ou que seja bonita e também leal. Aproveitemos dela o que tem para nos dar. Que a sua qualidade seja a vida através da qual comunicamos e nos enriquecemos."

"Essas manhãs nulas, canceladas, em que oiço música sem a escutar, em que fumo sem sentir o sabor do tabaco, em que olho pela janela sem ver nada, em que na verdade perco todo o contacto com a realidade sem que por isso tenha um maior contacto comigo mesmo, essas manhãs em que estou fora do mundo e fora da consciência, em que flutuo numa espécie de terra de ninguém, num limbo onde estão ausentes as coisas e as ideias das coisas, e não me deixam outro legado, essas manhãs, a não ser o tempo sem conteúdo."

"Somos um instrumento dotado de muitas cordas, mas geralmente morremos sem que todas tenham sido tocadas. Deste modo, nunca saberemos a que música dávamos guarida. Faltou-nos o amor, a amizade, a viagem, o livro ou a cidade capaz de fazer vibrar a polifonia que em nós se oculta. Entoámos sempre a mesma nota."

"Na vida, a única forma de perseverar é mantendo afinada a corda do espírito, tenso o arco, apontando ao futuro."

Comentários

rosa disse…
Gostei muito destes excertos.
Fazem-me sentido.
imo disse…
Este livro é genial. Põe-nos a existir.