Voltaire | Cândido ou O Optimismo

"Pangloss explicou-lhe como tudo ia de forma que melhor não podia. Tiago não era desta opinião. «É forçoso, dizia, que os homens tenham corrompido um pouco a natureza, pois não nasceram lobos, e tornaram-se lobos. Deus não lhes deu canhões-de-vinte-e-quatro, nem baionetas; e eles fizeram baionetas e canhões para se destruir. Poderia ainda considerar as bancarrotas, e a Justiça, que se apossa dos bens dos falido para deles frustrar os credores. - Tudo era indispensável, replicava o Professor zarolho, pois os males particulares compõem o bem geral; de maneira que quanto mais males particulares existem mais tudo está bem.» Enquanto arrazoava, o ar escureceu, os ventos sopraram dos quatro cantos do mundo, e o barco foi assaltado pela mais horrível tempestade à vista do porto de Lisboa."