Jean Teulé | A Loja dos Suicídios



"- E pára de cantarolar - e imita-o: - «Bom diiiiia» quando entram pessoas. Deve dizer-se com ar lúgubre: «Mau dia, minha senhora...», ou: «Desejo-lhe uma grande noite, senhor.» E sobretudo, deixa de sorrir! Queres afugentar os fregueses?... Mas que mania é esta de receber as pessoas a fazer olhinhos e com os dedinhos de cada lado das orelhas? Achas que os fregueses vêm cá ver o teu sorriso? É insuportável, mas que coisa. Vamos pôr-te um aparelho ou mandar operar-te!"

"- Quem é esta miúda de pernas compridas que desenhaste, que se mexe aqui ao pé da casa?
- É a Marilyn - responde o menino de seis anos.
Com estas palavras, a rapariga de ombros encovados levanta lentamente a cabeça, cujo cabelo quase lhe esconde o rosto e o nariz vermelho, enquanto a mãe se espanta:
- Porque a fizeste tão ocupada e tão bonita? Não sabes que ela está sempre a dizer ser inútil e feia?
- Pois eu acho-a bonita.
Marilyn tapa os ouvidos com as mãos, sai do banco alto, corre para o fundo da loja, a gritar, e sobe as escadas que vão dar ao apartamento.
- E pronto, pôs a irmã a chorar!... - guincha a mãe, enquanto o pai apaga as últimas luzes fluorescentes da loja."

Comentários