Saul Bellow | Ravelstein



"Que eu fosse exigente comigo mesmo era no entanto, para Ravelstein, um sinal favorável. O auto-conhecimento exige severidade e, se eu estava sempre disposto a entrar no ringue com esse monstro protaico, o eu, então havia para mim esperança. Mas eu gostaria de ir mais longe. A minha impressão era de que não conseguiríamos conhecer-nos inteiramente a menos que encontrássemos um meio de comunicar certos incomunicáveis - a nossa metafísica privada. A minha forma de levar isto a cabo era lembrar que, antes de nascermos, nunca tínhamos posto a vista neste mundo. Lograr esse mistério, o mundo, era o desafio oculto. Chegávamos do nada, da não-existência ou vazio primordial, até uma realidade completamente desenvolvida e articulada. Nunca tínhamos visto vida antes. No intervalo de luz entre a escuridão em que primeiro aguardávamos o nascimento e depois a escuridão da morte que nos iria receber, devíamos agarrar tanto quanto pudéssemos da realidade, que estava num estado bastante avançado de desenvolvimento. Eu esperara milénios para ver isto. Depois tinha aprendido a andar e fora enviado para a rua a fim de inspeccionar a realidade mais de perto. (...) Eu poderia ter dito a Ravelstein: Era a minha vez de viver. Mas ele estava demasiado perto da morte para se lhe falar nestes termos e eu tive de abandonar o meu desejo de ser por ele completamente conhecido, ao descrever a minha metafísica íntima. Apenas um pequeno número de almas especiais lograram alguma vez encontrar um modo de receber tais revelações."

Comentários

fallorca disse…
Pst... A comer amendoas ou às voltas com o folar?
imo disse…
Ando mais a pôr ovos :) Terminei o "novo" da Susan Sontag; confesso que me sinto mais atraída pelos diários dela. Depois do Bernard Quiriny, aguarda-me agora o "teu" Felisberto Hernández :)

Desejo-te antecipadamente boa Páscoa nas tuas andanças e mudanças. Mas ainda nos visitamos antes :)