W. G. Sebald | Pátria Apátrida
"A capacidade de pensar é, como instrumento da sobrevivência, a obrigação a que estamos continuamente sujeitos e encerra, atendendo à sua própria função, o perigo da redundância; sim, a reflexão hipertrófica, o desassossego à beira da paralisia é, com efeito, o estado específico do ser humano - e ninguém melhor que o autor para o afirmar. É provável que um dia o incendiário apareça na sala do apicultor e declare que o cérebro do ser humano se desenvolveu tanto, que já não pode consigo próprio. Na realidade, é difícil, ao ler Landläufigen Tod, escapar à impressão de que a etiologia dos numerosos actos de violência que constam do livro deve descrever uma espécie de inflamação do cérebro que grassa nessa região, como a raiva. É um mal da cabeça que o leva o ser humano a procurar na morte a saída do erro de cálculo de vida que se repete dentro de si e que é insuportável. No entanto, o filho do apicultor sabe que as nossas contas não ficam saldadas com a morte. É realmente verdade, diz ele ao pai, que só a morte por momentos simula uma completa precisão, até uma harmonia, mas a seguir começa logo «essa vida completamente oposta, ou seja, a vida a seguir ao ponto zero, onde entra em acção um mecanismo diferente e aquela é totalmente destruída». A alternativa da morte é assim desacreditada como uma ilusão, que Kafka também tinha presente quando escreveu: «A nossa salvação é a morte, mas não esta».
Porque a vida não desliza suavemente para o silêncio da morte, é a morte que, com uma violência selvagem, irrompe no meio da vida."
Porque a vida não desliza suavemente para o silêncio da morte, é a morte que, com uma violência selvagem, irrompe no meio da vida."
Comentários
Não os coloco à medida que os leio. Muitos deles li-os já há anos, e vou pondo esses enquanto leio outros. O Letelier, por exemplo, li logo quando saiu. Vila-Matas desde sempre. E Kavafis era eu uma criança ;)
Infelizmente, tenho tido pouco tempo. As exigências do mundo!
Desejo-te um bom dia :)