Julian Barnes | O Papagaio de Flaubert


"É essa a diferença. Procurar aquele painel deslizante que abre a câmara secreta do coração, a câmara onde se guardam a memória e os cadáveres. Às vezes encontra-se o painel, mas não abre; às vezes abre e o nosso olhar encontra o esqueleto de um rato. Mas pelo menos olhámos. É essa a verdadeira diferença entre as pessoas: não é entre as que têm segredos e as que não têm, mas sim entre as que querem saber tudo e as que não querem. Continuo a afirmar que esta busca é um sinal de amor."

Comentários

rosa disse…
Gostei muito deste excerto, e é isso mesmo, ando muito arredada das minhas buscas. Perco eu.
imo disse…
e perde quem te quer buscar...

:)
rosa disse…
Não sei como dizer-te que minha voz te procura e a atenção começa a florir, quando sucede a noite esplêndida e vasta. Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos se enchem de um brilho precioso e estremeces como um pensamento chegado.
Quando, iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado pelo pressentir de um tempo distante, e na terra crescida os homens entoam a vindima - eu não sei como dizer-te que cem ideias, dentro de mim te procuram.
Quando as folhas da melancolia arrefecem com astros ao lado do espaço e o coração é uma semente inventada em seu escuro fundo e em seu turbilhão de um dia, tu arrebatas os caminhos da minha solidão como se toda a casa ardesse pousada na noite.

- E então não sei o que dizer junto à taça de pedra do teu tão jovem silêncio.

Quando as crianças acordam nas luas espantadas que às vezes se despenham no meio do tempo - não sei como dizer-te que a pureza, dentro de mim, te procura.
Durante a primavera inteira aprendo os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto correr do espaço – e penso que vou dizer algo cheio de razão, mas quando a sombra cai da curva sôfrega dos meus lábios, sinto que me faltam um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer coisa extraordinária.
Porque não sei como dizer-te sem milgares que dentro de mim é o sol, o fruto, a criança, a água, o deus, o leite, a mãe, que te procuram.


Herberto Helder


Um dos meus poemas preferidos.

Faz sentido, aqui.
imo disse…
obrigada pelo pedacinho de ti... :)
fallorca disse…
Não trouxe esse (prudência), mas cheguei a casa desgraçadinho de todo... uma delícia ;)
Já sabe onde há «A Casa de Papel», para "completar" a leitura de Bonnet
imo disse…
esse já cá canta. mais "a biblioteca" de zivkovic. ambos por vias do bonnet.
entretanto, bellow foi-me agora oferecido, pelo que é o que agora me ocupa.
cresce a ansiedade quanto ao dublinesca! difícil esperar :)
fallorca disse…
Obrigado, imo