Raul Brandão | Húmus


"Tu, Deus, não passas de uma força cega e estúpida. Não me serves de nada.

Preciso de um Deus que me atenda, que me escute, que saiba que sofro e que me veja sofrer. Preciso de um Deus que me salve ou que me condene. Preciso de um Deus que me ampare. Preciso de uma inteligência superior à minha e em comunicação com a minha.

Acuso-te de teres comprometido a minha situação no universo. Acuso-te de não me deixares ser infame. Acuso-te de me dares o remorso. Acuso-te de impedires o instinto. Acuso-te de teres transformado a vida e criado a consciência. Acuso-te de me deixares sozinho com este peso em cima, com a ideia da vida e com a ideia da morte. Acuso-te de me levares para um calvário como o teu, para me tornares grotesco, e de me colocares em frente de ideias com que não posso arcar. Acuso-te de não poder mais, e de me instigares ainda a mais. Fui grotesco e tu não vias! Fui grotesco e tu não ouvias!

O contrato com Deus falhou, porque Deus não existe; o contrato com os homens não o cumpro, porque, se me sujeito a respeitar-lhe as cláusulas sozinho, expoliam-me."

Comentários

fallorca disse…
Belo livro, para igual edição...
Tenho de ver a «existência» com mais tempo
imo disse…
de facto, o design da frenesi impressiona pela diferença.

sê bem-vindo.
fallorca disse…
Adoro desenrolar «papiros» virtuais :)
imo disse…
:)