Ricardo Gaviria | O Passageiro Walter Benjamin



"Pois era ele que, em última instância, detinha a chave de tudo. Tratava-se apenas de um vulgar doente interrompido a meio da viagem? Ou, ainda melhor, um doente submetido ao capricho da criança que revive dentro dele - após quarenta anos de espera - devido à dura consciência da sua doença?
Inicialmente, a criança teve de esperar como de costume que quem a procurava a descobrisse, para lançar, ao deixar o seu esconderijo, o alarido posterior à libertação. Depois, ele mesmo tinha começado a perder as esperanças, habituando-se a viver, parado nos seus nove anos, na memória recorrente do século anterior, como na diminuta paisagem de neve de uma dessas bolas de vidro que, tão frequentemente, o adulto gostava de fazer rodar na mão. Porque não ignorava que ali pulsava uma vida em miniatura, igualmente tangível; de facto, ao fazer rodar a bola de vidro, sem dar por ela, o que o adulto esperava era ver surgir o pequeno caminho, a pequena casa, onde também ele pudesse desaparecer, despedindo-se dos amigos, que o teriam interpretado como um sonho."

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