Enrique Vila-Matas | Exploradores do Abismo



"Deixo que a minha vida decorra acompanhada de um sereno, aprazível tédio. Discrição, geometria, elegância e calma. Já não me agito, já não sigo pelo lado mais estúpido da vida, as estrelas são mapas de abismos exteriores, não tolero a solidão, temo a insídia do tempo e da idade, a insónia, o tremor dos limites.
Porque as minhas constantes vitais desta manhã são o sol que saúda os despertares, a descoberta do prazer de ser cortês, a revelação algo tardia de que tudo é excepcional, a entrega de gentileza na relação com as pessoas, a impressão de viver em plena tempestade de calma, a satisfação de ter perdido uns quilos, a gestão da herança literária do antigo ocupante do meu corpo, a abordagem suave de uma lógica espartana do trabalho, a crença de que os gordos são os outros, a utilização da ironia moldada como rasgo de elegância, de tímida felicidade, definitivamente."

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