Al Berto | O Medo


"ouve-me

que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte

vai até onde ninguém te possa falar
ou reconhecer – vai por esse campo
de crateras extintas – vai por essa porta
de água tão vasta quanto a noite

deixa a árvore das cassiopeias cobrir-te
e as loucas aveias que o ácido enferrujou
erguerem-se na vertigem do voo – deixa
que o outono traga os pássaros e as abelhas
para pernoitarem na doçura
do teu breve coração – ouve-me

que o dia te seja limpo
e para lá da pele constrói o arco de sal
a morada eterna – o mar por onde fugirá
o etéreo visitante desta noite."

Comentários

rosa disse…
hoje descobri esta palavra, menina de papel.

palimpsest.

:)
imo disse…
é uma palavra que faz sorrir... :) obrigada pela partilha da descoberta. transferi o blog antigo para d-existenciadepapel.blogspot.com. Vou tornar-me apenas leitora, e guardar aqui as minhas leituras.

beijinhos.
rosa disse…
soubesse eu escrever assim (como tu), pintava o mundo de palavras.

esta tua existencia é serena e muito generosa.
imo disse…
comecei a acreditar que saber ler pode ser mais importante que saber escrever.
(mas pintas o mundo.)