Uma História da Curiosidade | Alberto Manguel
"Gostamos de pensar, como faz Dodo, que, independentemente da direção em que corramos ou da incompetência com o que o façamos, todos devemos ser vencedores e todos temos direito a um prémio. Como o Coelho Branco, damos ordens a torto e a direito, como se os outros fossem obrigados a servir-nos (e tivessem prazer nisso). Como a Lagarta, questionamos a identidade das outras criaturas, mas mal conhecemos a nossa, mesmo quando estamos à beira de a perder. Acreditamos, como a Duquesa, que devemos castigar o comportamento irritante dos jovens, mas pouco nos interessam as razões desse comportamento. Como o Chapeleiro Louco, sentimos que só nós temos direito a comer e a beber numa mesa posta para muitas mais pessoas, e oferecemos com cinismo a quem tem sede e fome vinho, quando não há vinho, e compota, todos os dias menos hoje. Sob o domínio de déspotas como a Rainha Vermelha, somos obrigados a participar em jogos loucos com instrumentos desadequados - bolas que rebolam para longe, c